Sou recantista-RENILDA D. VIANA
Crônicas urbanas, contos, poesias e muita dedicação
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Textos
Quebra de braço com um parasita
Era um garoto tão forte, cheio de sonhos e determinação;
Montava a cavalo como nenhum outro dos meus dez irmãos.
Corria pelos campos da pequena fazenda do papai.  
Como todo garoto da sua idade, andava de pé no chão.

Não gostava muito das letras, era fato,
Fazer ir à escola era uma luta, uma chateação.
Gostava mesmo era de acompanhar o papai.
Esta era sua grande paixão.

Porém, papai que era homem letrado dizia:
“Não quero saber de filho meu sem estudar,
Deve ficar na cidade pra concluir os estudos,
Esta é a herança que vou  te deixar”.

Mas ele não dava liga pra esta prosa.
Continuava cavalgando pelos campos e tomando banho na lagoa
Chupando fruta no pé e correndo atrás das vacas
Levando a vida de boa.

Filho mais velho dos muitos irmãos.
Ajudava a mamãe cuidar dos porcos no chiqueiro,
Dava milho para as galinhas no poleiro,
Não se importava com o dinheiro.

Ajudava o capataz na ordenha das vacas
Dava até banho nos irmãos pequenos.
“Um fio de ouro”! Dizia mamãe.
Ela não sabia que seu filho já vinha sofrendo.

Uma dorzinha de barriga vez ou outra
Que não contava pra ninguém
Disfarçava as fraquezas nas pernas
E outros males também.

Eram sinais de alerta de saúde fraca.
Mas nada que não pudesse ser tratado,
Com o poderoso chá de boldo e leite tirado na hora.
Num piscar de olho, mamãe deixava todo mundo curado.

Aparentando cansaço no fim do dia
Recusou a janta e foi se deitar
Era o agravamento de uma doença
Que chá nenhum ia curar.

Papai, desesperado decidiu:
“Vamo levar esse minino pra capital”.
“Filho meu não morre a míngua”.
“Isso não deve ser doença fácil de tratar”.

A viagem foi providenciada, um doutor iria examinar.
Foi confirmado que um "bichinho" da lagoa
Era a causa daquela má,
Que poderia até matar.

Um corte grande na barriga
Para extração de um órgão destruído
Por  uma tal de esquistossomose
Bicho, até então desconhecido.

Ele logo ficou sabendo, da doença adquirida
Nos banhos de rio e da sua lagoa especial.
Não sabia que banhos tão divertidos
Iam deixar sequelas graves e numa cama de hospital.

A doença lhe afastou dos campos
Foi morar na cidade em busca de tratamento.
Cresceu, trabalhou, casou e teve filho.
Daquele bicho medonho, esquecia por alguns momentos.

Mas, aquele bicho adquirido na lagoa
Não tinha brincado em serviço.
Aquela disposição de menino ficou para trás
Mamãe dizia: “ Isso parece feitiço”.

Sem o baço que perdeu para a esquistossomose,
Seu fígado ficou sobrecarregado das funções
Novamente, a doença que o levou para a cidade
O trouxe de volta para o sertão.

Papai já não está mais entre nós
Para nos ajudar nesses momentos de aflição.
Mamãe, já idosa, até hoje não entende
Como uma água tão cristalina pôde fazer tanto mal ao meu irmão.

Que viveu seus últimos dia sem graça
Triste vida, vida esquisita
Parou de correr nos campos
Perdeu a luta para um parasita.

Descanse em paz meu querido irmão
  
Renilda Viana
Enviado por Renilda Viana em 26/05/2011
Alterado em 11/05/2019
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