Sou recantista-RENILDA D. VIANA
Crônicas urbanas, contos, poesias e muita dedicação
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Textos
O amante
Carinhoso, sensual, charmoso, másculo, romântico, passivo, compreensível, paciente e acima de tudo canalha!
Assim é o amante.
O homem que abre a porta do carro, puxa a cadeira no restaurante, aceita  comer o prato escolhido pela sua amada e manda flores.
Veste-se de acordo com o que ela gosta e muda o penteado se esta achar que está na hora. Barbudo ou sem barba? Ela escolhe. Barriga tanquinho não é um problema, pois se assim o desejar, logo, logo uma academia começa freqüentar.
Não existem problemas com datas, tudo é lembrado, comemorado e sacramentado. Desde a  primeira troca de olhares ao primeiro desentendimento por alguma bobagem, como um final de semana que não pode aparecer,por exemplo.
Algo corriqueiro, mas logo pacientemente justificado e compreendido por mais uma promessa de que logo, logo a situação vai mudar. Uma expectativa que pode durar décadas.
O amante é dono de um repertório incalculável. Criatividade invejável! Para driblar a situação de bígamo torna-se um grande contador de histórias. Das mais simples às mais mirabolantes. Tem o amante que vive com a esposa como amigo porque a respeita muito, tem o que vive porque não consegue financeiramente morar sozinho, tem o mais comum, aquele que vive junto por causa da prole, tem aquele que morre de pena da esposa doente, tem o que transforma a esposa num carma do qual não consegue livrar-se, o que transforma a esposa numa inválida, e tem até o que vive à custa da esposa e jura amor e fidelidade vinte quatro horas por dia. Tem ainda os que justificam o tempo fora da família com um emprego extra. Qualquer coisa por um reino proibido.  
O amante torna-se escravo no seu próprio reino. Viver sem sua amada não consegue, sem a sua família, não é capaz.
Mas aí vem a Noite de Natal e o Réveillon. O terror dos amantes. Uma festa cristã que exige família reunida, segundo padrões, junto a todos que respeita e ama. Não existe história boa para justificar a ausência de um lado ou de outro. Bom, isso é o que você acha. Pois aí é que entra o amante artista, aquele que cria uma cena. Por qualquer motivo banal fica nervoso, arruma uma briga para cada lado, enche a cara e acaba dormindo sozinho. Sem problema, afinal, o que são duas noites do ano dormindo sozinho quando terá depois 363 para escolher com quem dormir!?

Renilda Viana
Enviado por Renilda Viana em 29/12/2011
Alterado em 26/08/2012
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