Sou recantista-RENILDA D. VIANA
Crônicas urbanas, contos, poesias e muita dedicação
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Textos
Um conto de Natal
João, este era seu nome. João Jesus dos Santos. Nome bem apropriado para alguém que presenciaria um milagre na noite de Natal. Jesus, todos lhe chamavam de Jesus!
O dia foi corrido. Já era noite da véspera de Natal e Jesus ainda tinha muito trabalho por fazer. Aquele era um dia especial, precisava encerrar com a certeza de dever cumprido. Uma semana totalmente sóbrio, sem uma gota de álcool.
Carregou sua última carroça de papelão, aquela ficaria para vender no dia seguinte, pois não havia mais tempo, já era noite.
Partiu para seu casebre, que ficava próximo ao lixão, lugar de onde tirava boa parte de seu sustento. Jesus morava sozinho. Perdera a família para o vício do álcool. Vivendo agora com seus monstros: a solidão, a fome, a insônia e a bebida.
Já estava escuro quando chegou em casa. Prendeu sua carroça numa corrente, seu maior bem, justo cuidar. Decidiu ir até a imensa montanha ver se encontrava algo para o jantar, quem sabe, uns miúdos de peru descartados pelos bacanas?
Infelizmente não parecia seu dia de sorte, nadinha para comer. Mas, encontrou algo diferente. Uma caixa grande, embrulhada com papel de presente, ainda com fita vermelha em volta, dando um laço perfeito, como se fosse um presente rejeitado. Alguém ganhou, não gostou e descartou ali.
Ficou estupefato! Pensou: “agora você se deu bem, Jesus!”
Pegou o “suposto” presente rejeitado e correu para seu casebre, antes que invejosos descobrissem seu achado.
Era tanta emoção, que não cabia em se. Jesus era um homem bom. Naquele momento de abrir o seu presente, pensou nos filhos que deixou para trás. Lembrou dos bons natais que passaram juntos. Tomou um gole de água na boca da garrafa pet, esfregou os olhos marejados e voltou para o presente.
Sentado na frente de seu humilde lar, olhando para as estrelas, pensou: já será Natal? As luzes piscantes da cidade ao longe, anunciavam a noite natalina. Jesus estava sozinho. Sabia que distante dali havia muita comida, muitos presentes, muita festa e todos prontos para receber o Papai Noel. Mas, ele estava ali. Sozinho, sem ceia, sem festa, sem família, mas, tinha um presente para abrir.
Pegou a caixa novamente, balançou, virou pra lá, pra cá… não fazia barulho, seja lá o que fosse que estivesse ali dentro, não balançava.
Jesus resolveu brincar de desejos: “eu desejo ganhar um…” ! Sapato ? Não, não parece um sapato. Gravata? Não, para que vou querer uma gravata? Já sei! Uma camisa! É isso! Vou gostar de ganhar uma camisa nova!
Desmanchou o laço vermelho. Bem devagarinho foi tirando as fitas adesivas que colavam o papel.
Descoberta, viu que a caixa era bem bonita! Azul anil e com listras de um outro tom azul mais escuro.
“Calma, Jesus!” Pensava.
Cerrou os olhos e abriu a caixa.
“Oh! Um livro? Para que vou querer um livro?”
Mas ao retirar da caixa, logo percebeu que não era um livro qualquer. Era um capa dura, esplêndido! Com letras brilhantes, reluzentes, parecendo as luzes do Natal. Aproximou a luz da vela para verificar melhor. Estava escrito:
A BÍBLIA SAGRADA
Jesus ficou espantado. Começou a folhear e quanto mais folheava o seu presente, mais surpreso ficava. Ali mesmo, na luz da vela e das estrelas, começou a fazer a leitura de alguns versículos.
Quando acordou, lembrou de sonho que acabara de sonhar. “Caramba! Sonhei que tinha encontrado uma Bíblia no lixão, que passei a noite fazendo a leitura para um grupo de pessoas, num lugar muito bonito, com uma mesa farta e luzes espalhadas por toda parte. Que sonho lindo! Será o natal?”
Ao levantar, levou a mão no peito e viu que não tinha sido um sonho. A sua Bíblia estava ali de verdade.
O sonho de Jesus foi tão real, que ele resolveu levantar, procurar um lugar para tomar um banho, pôs sua melhor  e única roupa, enfiou seu presente debaixo do braço e foi procurar o lugar do seu sonho.
Chegou na igreja, olhou para todos que ali celebravam o nascimento do filho de Deus. Lembrou que era o Dia de Natal.
Se sentiu acolhido, agradeceu as boas vindas e sentou-se ao lado de um rapaz, que logo o reconheceu.
“Pai! É o senhor mesmo? Por tanto tempo estou te procurando!”
Jesus chorou e abraçou seu filho.
Jesus reencontrou sua família.
O milagre do Natal lhe tirou das trevas e o devolveu para Deus e para sua família.

Renilda Viana
Enviado por Renilda Viana em 22/12/2021
Alterado em 20/07/2024
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