Minha vida num Cordel
Por:Renilda Viana
Sou a quinta dum total de 9
Família de única riqueza, a alegria
Vim lá dos chapadões
Interior da Bahia
Resolvi relatar esta história no papel
É a minha vida, escrita num cordel.
Com 15 me tornei mulher
Com 18 me casei
Com 19 fui mãe do primeiro
Com 20 mãe do segundo
Com 24 encerrei, laqueei
Com 38 me divorciei.
Passei pelos percalços da vida
Sem dela muito entender
Fui aprendendo aos poucos
A fazer o que comer
Manual não tinha
Para aprender cuidar de bebê.
Cometi muitos erros
Desde troca de fralda
Até o ninar pra dormir
Foram dias e noites de despreparo
Para ser menina,mãe, esposa
Quando não se tem nenhum preparo
Estudar seria uma rota de fuga
Para tantos desafios
Arrumei uma babá menina
Pra ajudar com meu filho
Dividir as tarefas da casa
Me salvou de enlouquecer, foi por um fio.
A vida seguiu seu rumo
Com o tempo,
Fui acertando o prumo
Aprendi a nunca me apartar
De um amor sem medida
Meu primogênito, razão pra continuar.
Com a chegada dos irmãos
Amadurecer, era minha missão
Pois ser mãe de três com 24
Era desafio dos grandes, para qualquer cidadão.
Diria uma grande aventura!
Altos e baixos, sempre com emoção!
Acertava aqui, errava acolá
Desentendimentos não pude evitar
Para esposas da época
Era proibido estudar.
Mas desistir não estava nos planos
O objetivo era me formar!
Minha independência
Precisaria logo conquistar
Ser livre de amarras e misoginia
Sem acordo, tive que descasar.
Mais uma longa batalha
Fui obrigada a enfrentar.
Agora o caldo entornou de vez
Virei mãe solo no meio do processo
Mãe de três!
Estudante tardia.
Mas nada que desanime
Bola pra frente! Mamãe dizia!
Cuidei, estudei e trabalhei
Conquistei tudo que busquei
Com a liberdade de ir e vir
Sozinha, os três criei.
Enfrentei os monstros do preconceito
Se tiver que fazer de novo, farei!
O tempo se encarregou do resto
Não temos as rédeas de nada
Ganharam vida própria
Seguiram seu curso na jornada
Dar continuidade a descendência
Por mim iniciada.
Porém, em questão de cuidados
Nunca deixei falhar
Me dedicando dia e noite
Para nada não faltar
Independente das idades
Até mesmo quando resolveram casar.
Sou mãe a todo tempo
Sou mãe em todo lugar
E como mãe, estou sempre a vigiar
Diferente de ser pai, mãe não deixa de criar
Seus filhos agora adultos
Lhes deram netos para amar.
Para completar esta resenha
Devo aqui comunicar
Para contradizer as más línguas
Decidi de novo casar
Encontrei um bom moço
Disposto a me aguentar.
Poderia dizer agora
Estou realizada por inteiro
Mas a vida é trem bala
Não há pausa para fazer roteiro
Quem dirige não te avisa
Nem trabalha com terceiros
Quando me dei por completa
Sofri o baque desse trem;
O maior de todos os desafios
Aceitar a perda de alguém
A quem você amou mais que tudo
E lutou por ele como ninguém.
Era um filho bom!
É isso que tenho escutado
Procuro entender o que o feito
Por que meu filho foi levado.
Outros dizem: Ele deu, Ele tira
Resta a nós, pedir perdão, por tudo que foi falado.
Hoje busco outro tipo de saber
Estudar, procurar o entendimento
Ter conceitos reconstruídos
Para agir como discernimento
Reaprender e confiar Nele
Na Vida pós morte, no Firmamento.
Com meu primogênito agora no céu
Me fez conhecer a dor da saudade
Me fez também entender
Que só temos uma verdade.
Deus é o grande Criador
Aceita-lo de fato, é a verdadeira liberdade.
Com 15 me tornei mulher
Com 18 me casei
Com 19 fui mãe do primeiro
Com 20 mãe do segundo
Com 24 encerrei, laqueei
Com 63, meu filho lhe entreguei.