Sou recantista-RENILDA D. VIANA
Crônicas urbanas, contos, poesias e muita dedicação
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Textos
O velho e a tartaruga

Era para ser só mais uma caminhada do  Velho Bá.
Rotineiramente, após a sonhada aposentadoria, o Velho Bá saía para as suas caminhadas. Um percurso fácil, se não fosse pela subida bastante íngreme até o início da trilha. Costumava fazer suas caminhadas numa mata ciliar cercada por pequenos córregos e um bonito lago. Um ecossistema riquíssimo. Sapos, tartarugas, peixes, marrecos e patos selvagens viviam em harmonia no bonito lago. Ninguém pescava ali, o Velho Bá cuidava do lago e dos animais como se fossem dele. Já saía de casa com pequenas porções de ração para os peixes, folhas verdes para as tartarugas e milho e pães dormido para as aves. Costumava conversar com os animais enquanto os alimentava.
_ E aí, as folhas estão macias tartaruguinhas? Vocês sapinhos, não precisam, sabem procurar sua própria comida, vê se comem todas as moscas que aparecem por aqui! Tchau! Amanhã estarei de volta!
Assim seguia a vida simples de aposentado do Velho Bá. Quando encontrava um ninho de passarinhos nas proximidades da trilha, acompanhava até o nascimento dos filhotes. Protegia os ninhos dos predadores e sabia de toda rotina da mãe passarinha no chocar dos ovinhos. O Velho Bá era realmente um senhor de muita sorte! Envelhecer rodeado de natureza, sem dúvida, lhe proporcionaria longos anos de vida a mais, para usufruir da sua aposentadoria.
Mas naquele fatídico dia, aquela amizade cordial entre o Velho e os moradores do lago seria abalada.
Como sempre, acordou no seu horário habitual. Enquanto fazia sua primeira refeição, rica em frutas e fibras, ia montando a sua sacolinha de alimentos para levar. Passaria no lago e seguia. O roteiro não mudava nunca. Quando pegou sua garrafa de água, o celular tocou. Era seu filho avisando que viria visitá-lo no final de semana. A conversa demorou mais do que deveria. O sol já tinha saído quando o Velho Bá conseguiu sair.
- Nossa! Estou atrasado! Os coitados dos animais devem estar morrendo de fome. O sol já está alto. Passou no lago, distribuiu toda a comida e seguiu para a ladeira que dava acesso a trilha. Enquanto subia, secava o suor.
_ Está muito quente! A caminhada não vai render hoje!
Quando o Velho estava chegando no topo da ladeira, viu alguma coisa se movendo na sua frente.
- Será uma cobra? Um lagarto?
Foi aproximando.
_ Não acredito! Você se perdeu do lago tartaruguinha? Por isso que não te vi no café da manhã! Coitadinha!
Com muito cuidado, pegou a suposta tartaruga perdida e a abrigou nas mãos. Enquanto isso o animal se esperneava querendo se libertar.
_ Calma! Vou te ajudar a voltar para o lago. A caminhada já perdi mesmo!
Pegou o caminho de volta, protegeu o animal do sol, com a sua toalha de secar o suor, foi descendo a ladeira devagar, cuidadosamente. A tartaruga desesperada esticava as pequenas pernas na tentativa de escapar daquelas imensas mãos.
Quando chegou no lago foi soltando devagarinho, cuidadosamente para não estressar mais. Porém, quando a tartaruga se viu livre, encontrou uma oportunidade e deu uma forte mordida no polegar do Velho Bá, que gritou, segurando o dedo sangrando quase pendurado:
_ É assim que você agradece? Acabei de salvar sua vida! Estava perdida num sol de quase quarenta graus! Mal-agradecida!
A tartaruga voltou-se, com cara de poucos amigos e disse:
_ Tu sabes que horas da madrugada iniciei esta subida para buscar um lugar tranquilo para depositar meus ovos?

Moral da história: De boas intenções, o inferno está cheio.


Renilda Viana
Enviado por Renilda Viana em 05/08/2024
Alterado em 06/08/2024
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