São minhas coisas.  
Adquiri no decorrer da vida:  
compradas, ganhadas, sorteadas, achadas, herdadas.  
São minhas coisas!  
Cuidado com o vaso de cristal; foi presente de casamento.  
Ah! Essa toalha bordada à mão! Compunha meu enxoval. Amarelou com o tempo, mas continua linda!  
Olha! Este pote ganhei numa rifa!
Nas minhas plantas, ninguém mexe!  
Sim, são meus livros! Ainda não li todos.  
O relógio de parede herdei da vovó! Magnífico!  
Não jogue minhas conchas fora; as catei na praia de Boa Viagem.  
São minhas coisas!  
Não mexa nessa gaveta; são lembranças que ganhei dos netos.  
Ah, este vestido verde? Não serve mais. Está largo.  
A sandália, sim. Comprei para usar no seu casamento.  
Os móveis são de jacarandá, madeira de lei.  
A mobília toda foi trocada; está novinha!  
E este xale? Não me lembro de quem ganhei!  
Ah, nesta caixa de sapatos guardo seu primeiro sapatinho.  
Aqui neste bule velho está guardado seu dentinho de leite.
São minhas coisas!  
As fotografias, os cartões de viagens, meus ímãs de geladeira… São minhas coisas!  
Posso levá-las?  
—— Não, mamãe! No abrigo, a senhora não vai precisar.  

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Renilda Viana