Aventuras das escritoras da Praia Grande
Aventuras das escritoras da Praia Grande
Por Renilda Viana( escritora cronista)
O sábado de aleluia acordou dando sinal de que seria um grande dia: aniversário da Casa das Culturas de Santos. Nos organizamos anteriormente para que não perdêssemos nenhuma das homenagens programadas para a grande festa. Depois de alguns acertos, ficou decidido que três de nós seguiriam de carro e, devido à praticidade, a quarta escritora, Maria Bernadete Bernardo, seguiria de ônibus para não perder tempo. Saímos nós, Ludimar Molina, eu, Renilda Viana e a nossa fundamental escritora Márcia Neves, encarregada de nos conduzir até o local. Durante o percurso, seguimos conversando e rimos muito relembrando uma viagem anterior, com o mesmo intuito: participar de um evento literário, no qual ficamos conhecidas como “as escritoras de Praia Grande”. Pois bem, lá estávamos nós de novo, as escritoras da Praia Grande a caminho de mais um evento literário. Ao chegarmos, deparamos com o espaço lotado; muitas celebridades santistas compareceram para homenagear a casa e o seu Curador, Flávio Viegas Amoreira, indo encontrar a nossa companheira Bernadete alguns longos minutos depois. Enquanto ouvíamos a abertura do evento, uma belíssima explanação sobre o ano de sucesso do espaço, feita pelo curador Flávio Viegas Amoreira, ficamos na expectativa da chegada da nossa quarta companheira, até que ela surge esbanjando alegria por ter pegado o início das comemorações na primeira fila. Dessa vez, o ônibus coletivo chegou no horário.
As comemorações seguiram. Tivemos a fala do representante número um da cidade e responsável pela fundação da Casa das Culturas de Santos, o prefeito Rogério Santos. Muito simpático e assertivo nas palavras do seu discurso, conquistou muitos aplausos e sorrisos. É claro que, com tanta simpatia, não iria negar às escritoras da Praia Grande um registro fotográfico do momento. Esta vai para os nossos arquivos. A linda Carolina Ramos, escritora santista centenária, homenageada da casa, nos brindou com um belo poema. A celebração foi seguida pelo projeto “Luso Verso” que apresentou poemas do escritor português David Mourão-Ferreira interpretados pela artista portuguesa Teresa Teixeira. Logo após, os convidados foram encaminhados para o pátio da casa, onde aconteceria a bela apresentação do grupo “Cantos literários” que comandou um belíssimo show de Chorinho, seguida por demais apresentações. Em meio às festividades, a queridíssima Claudia Brino e o seu companheiro Vieira Vivo enriqueceram o evento com o lançamento dos seus livros e distribuíram muitos autógrafos. E não é que, em meio a toda essa festa, tivemos o privilégio de conhecer a neta do grande Paulo Freire? Pois é, uma menina dócil, de sorriso tímido e cativante, acompanhada pelo amigo haitiano Carlile Max Dominique Cerilia. Óbvio, mais um registro fotográfico para os arquivos das escritoras de Praia Grande. Após as apresentações e com um acervo fotográfico memorável, seguimos para o ponto crucial da festa: a comilança. Afinal, já estávamos horas no frenesi das comemorações; as baterias necessitavam de recargas. Uma mesa farta foi oferecida aos convidados; aliás, quero deixar registrado que nunca vi tanta comida num evento cultural. Os organizadores não pouparam esforços para agradar seu público. Comíamos, comíamos e a mesa não abria espaço. A dona Maria, responsável por nos receber, gritava: “ainda tem o bolo, deixam um espaço para o bolo, iremos cantar os parabéns!” De fato, tínhamos que ficar atentos para o espaço do bolo, pois os lanches de pão de metro estavam tão saborosos e com tanta fartura que corríamos o sério risco de não aguentar experimentar o bolo floresta negra reservado para fechar a festa. Mais uma vez, a dona Maria começou a gritar na multidão: “gente, levem pães para casa, tem muitas caixas ainda fechadas, não posso ficar com todos esses pães aqui!” Eu ouvia seus apelos e não compreendia. Ela estava mesmo pedindo que, pelo amor de Deus, levassem pães para casa? Eram caixas e mais caixas de pães de metro com os mais variados recheios. Quando escuto de pé de ouvido: “leva uma caixa para nosso café de segunda-feira.” Era a companheira escritora Ludimar Molina, pensando no futuro. “Que café?” Perguntei em um tom de voz mais alto, chamando a atenção dos convidados; de fato, havia me esquecido que tínhamos um encontro literário na segunda-feira. “Pode levar mesmo?” Incrédula, quis confirmar. Sim, poderíamos carregar os pães para casa. Abracei uma caixa de um metro de pão e segurei firme para não perdê-la no meio da aglomeração que estava se formando no corredor da casa. Ela, a Ludimar, logo lembrou dos funcionários do posto que fica em frente à sua casa e abraçou outra caixa. Logo percebemos que o burburinho formado do corredor até a porta de saída era devido à tempestade que tomou conta da cidade. Ninguém se arriscava a sair em meio ao aguaceiro que São Pedro despejava. Como o nosso carro estava estacionado bem em frente à entrada, decidimos correr até lá. A nossa parceira Márcia Neves arrumou um guarda-chuva e fez três viagens para transportar cada uma de nós até o carro. No desespero para abrir o guarda-chuva, acabou cortando os dedos; não me pergunte como, pois nem ela saberia responder. Bom, deixamos a casa, só não contaríamos com o grand finale! Era, em torno de 19:00 horas, de um sábado de comemorações do dia 19 de abril de 2025. Para não perder essa memória, quero registrar o dia e momento exatos. Lá estávamos nós, as escritoras da Praia Grande, no meio das ruas alagadas de Santos. Uma chuva torrencial caía sem cessar. Depois de dirigir por alguns metros, percebemos que a água estava chegando à altura do pneu do carro. Quando avistei um posto de gasolina, gritei: “Márcia, encosta naquele posto ou ficaremos ilhadas na avenida!” Ela encostou. Dois minutos depois, realmente, o caos estava instalado. Começamos a ver no celular as notícias de ruas alagadas, carros sendo arrastados e canais transbordando. Não demorou, estávamos cercadas de água e de carros que também tiveram a mesma ideia de parar no posto. Bom, não tínhamos escolha; era aguardar. De fome não morreríamos; dois metros de pães estavam seguros. Foram quarenta e cinco minutos presas no carro, cercadas de água por todos os lados. Tempo para muitas risadas, resenhas e, de quebra, um autógrafo para o menino Yohan, filho da Márcia, que ganhou o livro Angelina em meio ao caos. Pois, para as escritoras de Praia Grande, não se pode perder tempo; a literatura enfrenta até tempestade!
Finalmente, as 23:00hrs, a nossa guardiã escritora Márcia Neves, nos deixou em casa, molhadas, porém, seguras.
Renilda Viana
Enviado por Renilda Viana em 20/04/2025
Alterado em 20/04/2025